Crise no mundo dos games | Clássicos como GTA e Saints Row ameaçados por nova onda de censura digital
- Redação neonews
- 7 de ago.
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Processadores de pagamento pressionam plataformas a banir jogos adultos e acendem debate sobre liberdade artística na indústria dos games

(Foto: Divulgação)
O cenário dos games adultos está sob forte tensão. Nos últimos dias, grandes plataformas como Steam e Itch.io começaram a remover de seus catálogos títulos com conteúdo NSFW (Not Safe For Work), após pressões diretas de processadores de pagamento como PayPal, Stripe, Visa e Mastercard. A medida gerou grande repercussão e reacendeu o debate sobre os limites entre regulação financeira e censura artística. Agora, até mesmo franquias consagradas como GTA, Saints Row e Duke Nukem correm risco de serem afetadas, mesmo não sendo classificadas como jogos exclusivamente adultos.
O alerta veio através da ZOOM Platform, uma loja digital voltada para games clássicos. Em artigo publicado no site oficial, a empresa revelou ter sido avisada por um processador de pagamento sobre “preocupações” envolvendo o conteúdo de seu catálogo. “Como você provavelmente sabe, houve uma série de retiradas de títulos adultos da lista em todo o setor. Um de nossos processadores de pagamento nos informou que um ‘colega do setor’ estava preocupado com nosso conteúdo”, disse a ZOOM. A loja ainda afirmou ter iniciado “longas discussões com o PayPal e o Stripe” para evitar possíveis bloqueios.
Apesar do cenário de incerteza, a ZOOM foi categórica: “Não temos planos de remover nenhum título e faremos absolutamente tudo o que estiver ao nosso alcance para impedir tais remoções. Somos fervorosos defensores da liberdade artística e sempre seremos”, concluiu. A empresa também criticou o que chamou de “deslistagens motivadas por conteúdo sensível” e reforçou que não cederá a pressões que considera arbitrárias.

(Foto: Divulgação)
Vale destacar que, embora GTA e Saints Row tenham passagens polêmicas em sua história — com violência, linguagem imprópria e cenas sugestivas —, não se enquadram na categoria de jogos adultos com conteúdo sexual explícito, e muito menos se alinham ao tipo de material denunciado. Mesmo assim, as novas restrições parecem estar se estendendo para títulos com qualquer traço de controvérsia, o que levanta um sério questionamento: até que ponto a “censura financeira” pode ser usada para moldar a produção artística nos games?
A origem da crise vem de uma campanha promovida pelo coletivo antipornografia australiano Collective Shout, que enviou uma carta aberta em 14 de julho denunciando a presença de jogos com estupro, incesto e violência sexual nas plataformas. O grupo, que se posiciona contra diversas temáticas sexuais e LGBTQIAPN+, pediu que empresas financeiras cortassem relações com lojas que abrigam tais jogos, o que rapidamente resultou na remoção de dezenas de títulos das principais plataformas.
A resposta da comunidade gamer veio em forma de protestos, petições e mobilizações online. Algumas lojas independentes, como a GOG, iniciaram ações simbólicas de resistência — entre elas, a distribuição gratuita de pacotes de jogos adultos consensuais, como forma de chamar atenção para o que chamam de “censura corporativa imposta por intermediários financeiros”.
O debate está longe de acabar. De um lado, plataformas e desenvolvedores exigem autonomia para criar e publicar seus jogos, respeitando classificações indicativas e o direito dos usuários de escolher o que consomem. Do outro, empresas de pagamento exercem poder silencioso ao ameaçar cortar o suporte a quem não se enquadrar em seus critérios — muitas vezes vagos ou ideologicamente enviesados.
Se a tendência se mantiver, mais títulos — inclusive clássicos históricos e obras com diversidade temática — podem desaparecer das vitrines digitais, afetando criadores, estúdios independentes e o próprio futuro da liberdade de expressão nos games.