Atriz se transforma em Ma Rainey, esquecida figura que mudou o curso da música americana
Créditos: Netflix
Primeira cena. Cidade de Columbus, Geórgia, 1927. Dois homens negros ofegantes e correndo de algo ou alguém em uma floresta assustadora, cães latindo, vozes altas indistinguíveis podem ser ouvidas a longa distância. Se você já viu algum filme ambientado em qualquer estado do sul dos Estados Unidos antes, sua mente já presume que os dois homens são escravos fugindo do sistema de supremacia branca. Mas, neste caso, os dois homens estão na verdade correndo para conseguir entrar na na fila de um lugar seguro para os negros, para ouvir a mãe do blues.
Escrita pela primeira vez como uma peça de teatro por August Wilson, “A Voz Suprema do Blues” conta a história da cantora afro-americana Ma Rainey, desta vez completamente abraçada pela multifacetada atriz Viola Davis. Adaptado para um roteiro para o cinema pelo diretor George Wolfe, o filme explora a necessária complexidade e as habilidades de sobrevivência apresentadas por músicos negros dos anos 20 para se manter à tona tanto em sua vida pessoal quanto profissional. Passado em um período em que a população negra mudou-se para o norte para escapar da brutalidade racista dos estados do sul, “A Grande Migração” era para ser uma oportunidade aberta para os negros no que diz respeito à empregabilidade e mobilidade social. No entanto, o filme mostra como o racismo não está vinculado à localização, mas se espalhou por todas as estruturas geográficas e sociais, enquanto retrata a decepção de personagens individuais, a fim de alcançar poder e prestígio a ser respeitados pelas lentes de pessoas brancas daquele período.
Ma Rayne era uma mulher negra, gorda, lésbica e uma excelente musicista, com uma voz que traduzia suas experiências pessoais de trauma, consciência de si mesma e social de suas angústias e dor coletiva da comunidade da qual fazia parte. Considerada a mãe do blues, Rayne foi uma das primeiras artistas negras a ganhar notoriedade em geral, e não apenas dentro dos limites estabelecidos por outros. E Viola Davis, como sempre, entrega sua atuação não apenas no rigor histórico, mas também na luta moderna dos negros, um legado de opressão histórica imposta à experiência afro-americana. Com uma maquiagem que mais lembra uma pintura agressiva, dentes dourados falsos, disposição impetuosa e desafiadora, Davis fica quase irreconhecível nesse papel, o que não é surpresa quando a atriz foi indicada para a categoria de “Melhor Atriz” no Oscar deste ano . Não só isso, mas o figurino e a equipe de maquiagem do filme também foram nomeados para “Melhor Maquiagem e Penteado”.