Crítica | Uma Batalha Após a Outra: O cinema que sangra, ri e resiste
- portalneonews
- há 6 dias
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Paul Thomas Anderson entrega um épico contemporâneo que mistura raiva política, ternura familiar e caos explosivo no filme Uma Batalha Após a Outra

(Foto: Divulgação)
Paul Thomas Anderson nunca esteve tão enraizado no presente quanto em Uma Batalha Após a Outra. Se em Sangue Negro e O Mestre ele revisitava fantasmas do século 20, aqui encara de frente as trincheiras dos anos 2020: imigração, violência policial e desespero social. Através da jornada caótica de Perfidia (Teyana Taylor) e Pat “Rocket Man” (Leonardo DiCaprio), Anderson constrói um retrato intenso da sensação coletiva de viver em alerta constante. O filme é um espelho nada confortável do agora — sujo, barulhento e impossível de ignorar.
Tecnicamente, trata-se de um espetáculo. A fotografia, vibrante e crua, captura Los Angeles com um olhar de poeira e neon. A trilha sonora alterna entre o peso do jazz experimental e batidas eletrônicas nervosas que ecoam a urgência das ruas. A montagem ousada, com cortes abruptos e jogos de tempo, reforça a atmosfera de caos. Cada segundo é, de fato, mais uma batalha — visual, sonora e emocional. O resultado é uma experiência imersiva que dialoga tanto com o faroeste clássico quanto com o cinema político moderno.

No centro desse redemoinho, brilha o elenco. Teyana Taylor faz de Perfidia uma figura magnética, capaz de alternar entre ternura, fúria e autodestruição em questão de segundos. DiCaprio, por sua vez, se diverte como Pat, um anti-herói tragicômico cuja vulnerabilidade é também sua força. A relação entre os dois, sobretudo quando a filha Willa (Chase Infiniti) entra em cena, é o coração do longa: uma luta familiar travada em meio à guerra social.
O filme encontra ainda potência no equilíbrio improvável entre comédia e tragédia. Anderson entende que o sarcasmo é uma ferramenta de sobrevivência, e transforma cada aparição de Sean Penn como o Coronel Lockjaw numa caricatura assustadoramente plausível do poder autoritário. Já Benicio del Toro, como um guru improvável, acrescenta uma camada zen que só faz sentido no universo delirante criado pelo diretor. Esse humor não suaviza a gravidade da mensagem — pelo contrário, a torna mais digerível e sincera.
Sob a ação explosiva e a crítica social, pulsa um fio íntimo: a relação entre pai e filha. Willa simboliza o futuro — uma geração moldada por batalhas anteriores, mas ainda capaz de resistir. É nela que a narrativa encontra a centelha de esperança que impede o filme de mergulhar no niilismo absoluto. Ainda assim, Anderson não romantiza: a esperança existe, mas é fruto de luta constante, sem garantias.
No desfecho, Uma Batalha Após a Outra se afirma não apenas como cinema, mas como documento emocional da nossa era. Anderson traduz na tela a ansiedade, a raiva e a exaustão coletiva, sem deixar de lado a necessidade de rir, amar e acreditar. O clímax — uma verdadeira montanha-russa no deserto californiano — sintetiza a mistura de espetáculo e reflexão. Urgente, incômodo e necessário, o filme reafirma que o cinema pode ser político sem soar panfletário, e ainda assim profundamente emocionante.
Opinião pessoal: "Pra mim, Uma Batalha Após a Outra é Paul Thomas Anderson em sua versão mais urgente e humana. Saí do cinema esgotada, mas também inspirada. Apesar de alguns excessos, é um filme que pulsa vida e me fez acreditar que a arte ainda tem fôlego para lutar."
Você acha que filmes como Uma Batalha Após a Outra devem ser políticos e refletir o presente, ou prefere que o cinema seja um escape da realidade?
Ficha Técnica
Nome: Uma Batalha Após a Outra
Tipo: Filme
Onde assistir: Cinemas
Categoria: Comédia/Aventura
Duração: 2h 50min
Nota 4,5/5