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Crônica #32 | Ao Mestre, com carinho

Atualizado: 31 de out. de 2022

Na essência de um verdadeiro Mestre: simplicidade, sinceridade, amor e humildade



Há uns dias atrás, com mensagens nos grupos parabenizando os professores lembrei-me de um fato acontecido na minha vida. Estava aguardando na fila do caixa de um supermercado quando, logo atrás de mim uma senhora se posicionou para ser atendida.


- “Bom dia tudo bem? Pode passar na minha frente, a senhora está com pouca mercadoria...”





Assim trocamos de lugar. Ela gentilmente me agradeceu e disse que não precisava. Ao observá-la percebi que era familiar. Tomei coragem e perguntei:


- “A senhora é a professora Sônia, não é?”.

- “Sim, fui professora e estou aposentada e pelo jeito você foi meu aluno!”.


Fiquei emocionado com o reencontro. Fiquei sem palavras naquele momento. Curvei-me com respeito, como os orientais se curvam para os próximos. Não pude me conter em emoções. Lembrava do sorriso dela, apesar das rugas as covinhas nas bochechas rosadas continuavam marcantes, ao sorrir. Por instinto tomei as duas mãos dela e apertei com carinho... Parecia que eu tinha voltado no tempo.





- “Sim, fui seu aluno e graças a senhora eu segui Ciências Exatas. Lembro-me da senhora quando estava no ginásio e me deixou uma grande lição. Não sei se a senhora lembra de um fato que aconteceu numa das suas aulas... Tirei uma nota baixa numa das provas sobre expoente... Não compreendia o que significava a operação x² = 16 pois tinha colocado que o valor de “x” era 8 e que o correto era 4. A senhora desenhou na mesa um quadrado traçando três linhas horizontais e verticais e colocou em cada quadrado um pedaço de giz...“ EUREKA!!! Tinha compreendido a razão!


- “Agora eu me lembrei de você!! É Otavio...”.


Fiquei ainda mais surpreso por lembrar do meu nome.

A minha mente, influenciada pela mente coletiva, já tinha me imposto que pela idade dela talvez já tivesse Alzheimer e pouco poderia lembrar. Grande engano meu, que vergonha! Percebi que a nossa mente é influenciada pelo meio em que vivemos e que muitas imposições terríveis podem ser emanadas na sociedade moldando nosso modo de pensar e agir.


Naquela época, ela me disse que meu nome era diferente por ser descendente de japoneses e relatou a etimologia. Disse que era um nome forte que na história antiga, reinado romano Júlio Cesar tinha dado nome ao seu filho de Augusto e que depois passou a ser chamado de Otavio. Lembro que ela relatou que estou gravado no calendário, ou seja, mês de julho em homenagem a Júlio Cesar e logo em seguida mês de agosto, de Augusto, seu filho Otavio.


- “Sim você me marcou porque houve a compreensão além do expoente 2. Você me disse que, se fossem caixas de laranjas e empilhadas em 4 níveis, o resultado seria 64. E eu nem tinha falado sobre isso!” Assim ela relatou.


A fila do caixa andou. Ainda deu tempo para ela me contar suas alegrias de ter sido uma professora... Acompanhei-a até o carro e nós nos despedimos. Nunca mais eu a encontrei. Gratidão eterna.


Ela foi, não somente uma professora de matemática, mas também uma grande inspiradora que soube despertar o verdadeiro sentido da Matemática em mim. As minhas notas alcançaram patamares limites superiores. Fui em busca de um entendimento melhor nas biografias de grandes matemáticos. Isso também me ajudou no campo da filosofia porque toda a ciência era considerada como um todo na antiguidade.





No Japão, quando o imperador visita um local todos se curvam em respeito a ele, porém existe uma exceção e é para o professor, ele não precisa seguir esse ritual. Sãos os príncipes, princesas e imperadores que se curvam diante do professor. Porque um dia o professor foi seu mestre e levou conhecimentos e, graças a ele que os senhores de poder alcançaram os seus postos.

Hoje fico entristecido com os valores distorcidos e empobrecidos que ainda prevalecem dentro da sociedade em que vivemos. Se não bastassem noticiários de agressões físicas e verbais para com os professores, agora o reconhecimento só é feito quando se obtém títulos e mais títulos.


Os jovens estão entretidos no avanço tecnológico e sua via de ligação com o mundo é a internet. Hoje “o professor” está esquecido. Infelizmente muitos jovens sentem-se como donos do conhecimento, baseado em copiar: control-C , control-V, e assim ficam fantoches de serem mais uma cópia de um outro qualquer. Graças aos mestres sabemos ler, contar, comunicar, ensinar e principalmente aprender sempre. Com os professores aprendemos a importância do respeito e do sonhar em ser um grande profissional. Consequentemente e junto com o nosso meio, aprendemos e crescemos no entendimento sobre humildade, fidelidade e lealdade para com o ideal de vida sonhado. Ele nos traçou retas e deu sentido do caminho a trilhar. Indicou o Norte. Passou segurança nos raciocínios lógicos, e também nos orientou em situações sentimentais, emocionais e comportamentais, próprios e dos semelhantes. E com isso as tomadas de decisões foram baseadas em algo não fictício.





Lembro do dia da minha formatura. Todos nós ficamos em fila dentro do estádio coberto. Houve uma cerimônia com hasteamento da bandeira do Brasil e do colégio, e cantamos o hino nacional acompanhando a banda da própria escola. Nessa data tão importante cada aluno recebia um diploma e um medalhão com uma fita, e todos meus colegas de classe estavam acompanhados dos pais e tios. Recebi o diploma e o medalhão das mãos do temível diretor. Nesse dia meus pais não compareceram. Não me lembro do motivo nem guardei traumas por isso. Depois de receber voltei para a formação da fila. Foi dada a ordem para que todos os acompanhantes que estavam sentados na arquibancada, colocassem o medalhão nos seus respectivos filhos. Fiquei de pé e sabendo da ausência dos meus pais, conformado guardei o medalhão no bolso. A minha professora Sonia percebeu meu ato. Desceu do palanque e se aproximou de mim, pegou o medalhão e colocou no meu pescoço. Apenas um sorriso, um olhar carinhoso. Um ato inesquecível. Percebi que ela não era apenas minha professora de matemática. Foi amiga, mãe por alguns minutos. Minutos esses que valeriam por toda minha vida, pois o sentimento daquele momento é perpétuo. Apenas de me lembrar daqueles momentos, do sorriso e olhar carinhoso, me traz um transbordar de gratidão. Penso que é como tirar das pessoas solitárias a solidão, tirar das pessoas depressivas a depressão, tirar dos abandonados o sentimento de abandono. Aprendi com o seu ato o quanto podemos ajudar as pessoas, muitas vezes apenas com simples gestos, na simplicidade e na sinceridade.


Cresci....





Na base do altruísmo da minha professora me identifico. Uma das formas que a Vida me apresentou hoje de retribuir o que com carinho recebi foi o de levar palavras e compartilhamento de experiências às pessoas que assim o querem e buscam. Apesar de ser engenheiro, a Vida também me levou a ser terapeuta por uma década. Muitas histórias me enriqueceram durante essa minha jornada.


Professora Sonia seguiu seu caminho... Deixou um grande ensinamento para mim: o do verdadeiro sentido de ajuda.


Houve um mestre que também transmitiu o amor aos próximos. Não fez faculdade, nem mestrado, nem doutorado e pós doutorado e deixou exemplos e teoremas. Não deixou quaisquer anotações. Foi mal compreendido pelos homens que não quiseram acreditar nas Suas equações. Deixou o exemplo do Amor, Amor incondicional.





Penso que muitos dos escritos que estão contidos num único livro, anotados pelos seus fiéis seguidores, são ainda pouco decifrados e estão ainda sob muitas incógnitas. Chegaremos um dia na verdadeira compreensão, de tudo e de todos, daí então seremos capazes de visitar outros Universos que existem, além deste mundo, deste mundo de terceira densidade, que ainda precisa dos números para representá-lo como fundamento de compreensão.





Aos meus mestres tenho uma enorme gratidão.

Seguimos o caminho da vida com tarefas todos os dias.

Temos provas todos os dias.

Aprendi que jamais saímos da escola; da escola da Vida.





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