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Foto do escritorOtavio Yagima

Crônica #19 | Viagem para a subconsciência

Atualizado: 31 de out. de 2022



Até 2030 o ser humano pisará em Marte. Pelo alto desenvolvimento tecnológico e avanços na área da Inteligência Artificial, já não temos dúvidas que isso acontecerá, ou seja, uma máquina poderá tomar decisões sem que haja interferência humana. Nada pode impedir isso.





Sabemos que todos os astronautas estão preparados fisicamente e profissionalmente para comandar os complexos botões de uma espaçonave. Também são treinados mentalmente para enfrentar todos os possíveis desafios que aparecerem na sua frente. Condicionamentos, treinamentos, disciplina e foco. Entretanto, cabe uma reflexão profunda em relação aos sentimentos humanos. Estarão preparados, espiritualmente, caso deparem com alguma situação em que não haverá a possibilidade de uma segunda chance?


Há dois anos, viajei por praticamente 24 horas enclausurado num tubo de alumínio fechado, rodeado de alta tecnologia e com profissionais de voos. Destino? Apenas meia volta da Terra, o Japão. Tive companhias na viagem, podia andar pelos corredores e desfrutar das refeições quentes e com direito a uma pausa no caminho para recuperar as minhas energias.


Para os astronautas que rumam para MARTE, as medidas e as grandezas já são completamente diferentes. São 70 milhões de quilômetros e aproximadamente 260 dias de confinamento numa área não maior que um micro ônibus. Mesmo que tenha conforto de um voo comercial, as situações já são diferentes.





Agora não é a espaçonave que está na trajetória para Marte e sim a mente que inicia uma rota de colisão, da espiritualidade com a existência própria. E num confinamento de espaço e mente, as reflexões de vida começam a vir à tona e dominam algo que é incontrolável; A SAUDADE. Se existem saudades é porque contêm as lembranças e são sempre marcadas por situações de lágrimas ou momentos de muitas risadas. Saudade é algo sutil. É doloroso quando perdemos uma pessoa que tanto amamos como um pai e uma mãe daquelas broncas que antes ecoavam pela casa e não se ouve mais. E ao mesmo tempo agradável quando recebe um abraço de um verdadeiro amigo ou simplesmente de um cão de estimação que lhe aguardava no portão e de um gato que com seu olhar diria: “Que bom que você voltou”.


A saudade é algo um tanto difícil de se tratar pois é incorruptível, não tem como barganhar nem como negociar o seu valor. Ao mesmo tempo parecendo intangível, está contida dentro do coração de forma sublime e linda, à espera de uma solução.


Tenho saudades de quando as minhas filhas me esperavam perguntando: trouxe “surpresinha”? Qualquer balinha era uma surpresinha feliz e valiosa, quanta alegria!! Tenho saudades de quando meu pai confeccionou uma pipa e me levou para soltar num campo de futebol. Ele me ensinou a sentir a força do vento. Vento que faz voar um pássaro, vento que leva um barco a vela para o além mar. Que vontade de reviver esses momentos, entretanto o tempo é imperdoável porque ele cumpre sua função e cobra incansavelmente a minha evolução. São momentos que são impossíveis de reviver. Já não é realidade. Mas foi algo pertinente que precisei passar.




Mas existem saudades que pode vencê-las. Só e somente você tem direito de voltar para o passado relativo e realinhar o caminho. Depende exclusivamente das escolhas e decisões. É abraçar de novo a pessoa enquanto está nessa dimensão. Perdoar pelas transgressões passadas. Estender a mão, seja qual for a situação do outro. Beijar... Em tempo, matar a saudade antes que ela lhe fira.


Um amigo me disse:

- “Tenho saudades do meu pai, ele mora num lugar que posso ir a qualquer momento com meu carro. Reconheço a importância para com a minha vida”. E tomou da decisão certa. Ele foi. Um abraço bem forte e um almoço com duas taças de vinho reviveram os melhores momentos passados e presentes. Simples assim...


Quando reconhecer que a saudade é maior que o orgulho é o momento em que o Criador bate no seu coração e diz:


- “Bora lá, vamos deixar de lado esse orgulho pessoal e intolerante e pedir perdão para a pessoa que está lá no fundinho. Porque as oportunidades diminuem e as chances ficam escassas deixando o caminho estreito com poucas placas de retorno. E ainda lhe reservo momentos pra você olhar nos olhos, falar palavras carinhosas, enxugar as lágrimas de quem lhe feriu e ouvir: amo você.”





Momentos em que agora, a oração de São Francisco de Assis faz sentido na sua plenitude: “Perdoar que ser perdoado, amar que ser amado”.


Nessa viagem imaginária e solitária para Marte, que a Saudade não domine o coração em forma de arrependimentos e não se importe com o tempo dimensional, bastar reconhecer a existência do tempo da alma, porque você tudo pode...


Seja feliz.








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