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Foto do escritorOtavio Yagima

Crônica #98 | EQM: No romper da linha da vida.

Ligados por um fio.


capa da crônica 98 EQM. um homem deitado com os olhos fechados em um cenário que se assemelha ao céu, com nuvens e estrelas

O que você encontrará nesta crônica:


Mistérios além da vida! Estudos sobre EQM, frequentemente liderados por médicos, abrem portas para o transcendental. Situações de morte iminente podem desencadear projeções astrais, revelando que temos corpos sutis além do físico. Inconscientemente, todos exploramos outros planos durante o sono. Estados de coma, meditação ou técnicas específicas podem também conduzir a uma projeção astral consciente. Você já se viu desdobrado em outros planos?

Desperte para uma existência além da matéria.

A imortalidade da consciência após a morte é evidente para você?

Garanta sua reflexão!


I. A visitante.


Na frente da minha casa, há um pequeno e acolhedor jardim. Um espaço verde com uma bela árvore que, naquela tarde, oferecia uma agradável sombra. Três bancos de madeira maciça, cercados por diversas plantas, emanavam uma sensação de serenidade. Decidi aproveitar um breve momento de descanso, aguardando a chegada de uma visita. Acomodei-me com a intenção de compor uma crônica, uma vez que a rua tem pouco movimento de carros e moradores, por fazer parte de um condomínio residencial fechado.

Ouvindo música clássica, diminuí minha frequência mental e sincronizei minha respiração. Muitos pensamentos ainda teimavam em permanecer, e a tarde me presenteou com a visão de um falcão solitário planando no céu, um casal de saguis em uma árvore do outro lado da rua, um pequeno cãozinho passeando com seu dono e um jardineiro dedicado cuidando das flores no jardim de um dos vizinhos. Tudo o que eu via eram acontecimentos presentes que foram se distanciando diante do meu estado mental. Contudo, de repente, numa pequena fração daquele momento, surge na altura dos meus olhos uma aranha pendurada num fio. Diante da inesperada visitante, minha mente, quase em estado alfa, transita para o estado beta, e meus pensamentos se concentram completamente nela.

 

- “Dona aranha! Corajosa és tu, pendurada nesse fio quase invisível, nesse salto quase de uma queda livre que a trouxe até aqui. E, ao aparecer assim diante de mim, estás querendo dizer algo?”

 

Ela havia descido de um ramo, confiante em sua fina tecelagem. Parecia um trabalhador amarrado a uma corda, prestando serviços em um prédio bastante alto.

 

- “Você não confia naquilo que faz? Pois eu confio nas teias que teço e que vão garantir o meu sustento”, assim respondeu ela.

 

A aranha dependia desse fio que estabelecia a conexão entre o sucesso da elaboração de uma armadilha complexa e uma queda inevitável caso essa linha se rompesse. 

 

O possível rompimento da linha me conduziu a um bom tempo atrás, quando, já exercendo a profissão de engenheiro, tinha um colega de trabalho que quase teve sua linha rompida: tirando-o da vida, levando-o de encontro à morte e, milagrosamente, trazendo-o de volta à vida. Experiência de quase morte, ou EQM, assim é denominada hoje; os minutos que ele vivenciou durante sua breve morte física.

 

Estávamos vivendo, profissionalmente, uma fase de intenso trabalho e busca por conquistas desejadas, com a racionalidade quase que absolutamente predominante em nossas mentes ocupadas. Ele já era casado, tinha uma filhinha de uns três anos, e sua esposa estava grávida do segundo filho. Devido às nossas profissões, nós, engenheiros, geralmente encaramos tudo sob uma ótica mais exata, assumindo um estilo de vida pautado no raciocínio lógico. Consequentemente, costumamos acreditar e nos limitar ao que nossos olhos físicos nos mostram. 


II. A Experiência Quase Morte - EQM.


Esse colega, na época, foi internado às pressas devido a uma apendicite. De saúde um tanto frágil, ele tinha inúmeros outros problemas, mas a urgência o levou obrigatoriamente à mesa de cirurgia.

 

Em algum momento durante essa cirurgia, houve uma complicação; não soube dizer exatamente o que foi, e então ele se viu fora do seu corpo físico. Viu-se absorvido por uma luz forte que rapidamente tomou outras cores, levando-o a outro local. Apesar de afirmar que não conseguia expressar em palavras o que viu lá, continuou relatando.

 

No momento seguinte, ele se viu diante de sua mãe, já falecida na época. Ao mesmo tempo em que se surpreendeu com a presença dela, um sentimento muito forte e acolhedor o envolveu de todas as formas. Mas, como sua mãe estava ali, viva, se ela já havia morrido? Confuso, percebeu que existia um fio, como se fosse um fino cordão umbilical, que saía de sua nuca e que, naquele momento, não conseguia ver até onde chegava.

 

Aparentando filamentos de eletricidade, esse cordão liga o corpo material à nossa alma imaterial. Havendo o rompimento desse fio ou cordão, o processo da morte física se torna irreversível.

 

Sua mãe o abraçou com muito afeto, deu-lhe alguns conselhos e acalmou-o, dizendo que ele ficaria bem, e que sua filhinha o aguardava junto à sua esposa. Então, de forma imediata e com uma velocidade igual ao pensamento, ele voltou à sala de cirurgia e viu a equipe médica realizando procedimentos para reanimar seu corpo físico morto. Assistiu ao socorro, e quando percebeu, já tinha retornado ao seu corpo. Atônito, não sabia o que tinha acontecido; apenas vivenciou sem entender o porquê, sem compreender o significado de toda aquela situação.

 

Pelos avançados recursos da medicina atual, há muitos casos em hospitais nos quais as pessoas são trazidas de volta à vida, passando por experiências extracorpóreas. Os muitos estudos e pesquisas sobre a EQM foram desenvolvidos pelos próprios médicos, o que criou condições para colocá-la em um contexto mais aberto, saindo da esfera espiritual ou mesmo mística. De certa forma, despertou-se para a existência de algo além da vida, de evidências da permanência ou imortalidade de nossa consciência após a morte do corpo físico.

 

A EQM ocorre quando alguém está à beira da morte e tem experiências fora do corpo físico, algo semelhante a uma viagem astral. Essas experiências mostram que, além do nosso corpo físico, possuímos outros corpos mais sutis que podem ser projetados em determinados momentos, deslocando-se para diferentes dimensões. Isso acontece naturalmente e de forma inconsciente quando dormimos, conhecido como desdobramentos. Acreditemos ou não, isso acontece com todos nós. Outros estados que levam à projeção da consciência ou projeção astral são os estados de coma ou meditação. De forma consciente, é possível realizar projeção astral com técnicas específicas. 


 

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III. A revolução interna.


Após sua extraordinária experiência, ele percebeu que sua mente lógica e de equações exatas havia passado por um processo de transformação, encaminhando-o para uma revolução interna inevitável.

Afinal, se o seu coração e o cérebro pararam, como explicar o fenômeno ocorrido durante a sua pausa? Incapaz ainda de encontrar respostas claras, manteve-se preso aos sentimentos que aquela luz emitira: profundo amor e paz interna, e um aconchego intenso que o retinha, devido à sua forte intensidade. Ele descreveu essa experiência como um sentimento de plenitude que desejava não perder, ansiando permanecer lá envolto naquela luz amorosa.

 

Foi um sentimento tão profundo que pareceu impregnar todo o seu ser. Ele não se reconhecia mais, pois chorava pela emoção que emanava. A pessoa prática que era, cética em relação a tudo que não fosse comprovado pela Ciência, estava se desmoronando em dúvidas e perguntas sem respostas.

 

A EQM, no entanto, nem sempre ocorre com experiências na luz, em situações e cenários positivos. Existem experiências nos mais diversos cenários, alguns mais sombrios e trevosos. Parece evidente que as experiências estão alinhadas com as necessidades particulares de cada pessoa, proporcionando uma amostra dos resultados de suas ações. Portanto, nada deve ser tratado como puramente acaso; sempre há uma razão para se apresentar de determinada forma e situação, dentro do contexto necessário para aquela pessoa. E por impactar profundamente nas nossas sombras, muitas vezes ocorrem rupturas de crenças e tabus, levando o ceticismo de um extremo ao outro.


IV. O cordão de prata.


Antes, esse colega aceitava e entendia o nosso corpo humano como um circuito fechado, que após sua morte viraria pó e nada mais. Com uma perspectiva mais materialista, seu pensamento era: morreu, enterrou, acabou... acreditava que assim terminava a nossa vida. No entanto, após sua experiência, passou a questionar o que seria aquele fio que percebeu saindo de sua nuca. Seu corpo físico estava ligado por esse fio àquele outro corpo idêntico, translúcido e sutil que se desdobrou e se deslocou naqueles momentos de sua momentânea morte. Seria, então, esse outro corpo translúcido o que chamam de espírito, a nossa chamada consciência? E será que realmente existe e pode continuar existindo fora do corpo físico, mesmo após a morte? Afinal, ele teve mais uma forte evidência, pois viu, encontrou e abraçou sua mãe, que já havia falecido há tempos. Diante dessas experiências, a morte passou a não ser tão temida e se mostrou com uma nova face, sendo apenas e tão somente o término do corpo físico.

 

Este filamento energético, que conecta o corpo humano ao seu corpo sutil, é comumente referido como cordão de prata. Embora tenha várias outras designações, a prevalência deste termo no Ocidente é influenciada pela cultura cristã, encontrando menção na Bíblia, mais especificamente no Livro de Eclesiastes, capítulo 12, versículos de 1 a 7. Esta informação pode ser considerada relevante para aqueles que têm questionamentos e foram educados em um contexto religioso mais restritivo.

No término dos momentos de sua experiência quase morte, esse fio, esse ponto de conexão se juntou, acoplando os dois corpos, e então sua vida retornou ao corpo físico. Diante dos fatos, ele não conseguia mais imaginar o homem como sendo apenas um simples circuito fechado, dependente somente de um funcionamento bioquímico elétrico, um mero acaso. No entanto, também não entendia ainda como se processava a real fonte de energia do ser humano. Afinal, o que nos mantém vivos? Estamos funcionando, então onde estaria a tomada para alimentar nossa bateria? Existe algo mais? Esse algo mais estaria no outro extremo desse cordão de prata?

 

Por um instante, a senhora aranha ficou imóvel a uma determinada altura. Em vez de esperar pacientemente pela ajuda do vento, num balançar de vai e vem, ela conseguiu amarrar seu fio em outro ramo. Ela se agarrou em algo para a construção da sua casa. No dia seguinte, fui observar a sua tarefa. Uma rede estava geometricamente construída. 

 

E nós, em quem ou no que nos apoiamos? Essa é uma das perguntas que a senhora aranha me deixou.

Se ela ficasse em vão, jamais poderia buscar seu outro ponto de apoio para a construção. Se não confiasse na tecelagem do seu fio e contasse com a força do vento, como poderia amarrar o seu destino?

 

Seja como for, a base de tudo isso é que existe algo além do que podemos enxergar, na esfera extrafísica, nos mantendo vivos para esta nossa existência terrena. No plano físico, existem verdadeiros amigos que nos ajudam a compor a geometria da vida. Na nossa construção da teia da vida, muitos e muitos fios são tecidos a todo momento, num constante construir e reconstruir para assim nos mantermos ativos na linha da vida. A natureza, que a todo momento nos traz seus exemplos, para assim observarmos, pensarmos, sentirmos e fazermos das nossas ações as escolhas para os passos a serem percorridos.

 

A senhora aranha construiu sua teia com estrutura geométrica precisa, mostrando-nos seu incrível trabalho, reconstruindo sempre que necessário qualquer rompimento dos seus fios.

Muitos já estiveram com a vida por um fio, muitos foram e voltaram quase rompendo esse fio.

Muitos não valorizam sua vida e só vão valorizá-la quando sentirem que a estão perdendo, como numa experiência de quase morte: de um extremo a outro extremo, no rompimento do fio da vida.

 

Estejamos conscientes, pois conhecimento não é sabedoria se não for aplicado.

 

Observar, pensar, sentir e, acima de tudo, agir com discernimento e amor, antes do rompimento e da diluição de nossa preciosa linha da vida.


 

Esta é uma obra editada sob aspectos do cotidiano, retratando questões comuns do nosso dia a dia. A crônica não tem como objetivo trazer verdades absolutas, e sim reflexões para nossas questões humanas.

 

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