A Vizinha Perfeita | O documentário da Netflix que mostra o crime real no qual expõe o racismo e a polêmica lei de defesa da Flórida
- Redação neonews

- há 4 dias
- 4 min de leitura
Baseado em fatos reais, o novo documentário da Netflix revisita o assassinato de Ajike “AJ” Owens e revela como preconceito, negligência e uma lei controversa culminaram em uma tragédia que chocou os Estados Unidos

(Foto: Divulgação)
Em junho de 2023, um crime brutal abalou uma pequena comunidade na Flórida e reacendeu o debate sobre racismo e justiça nos Estados Unidos. A vítima, Ajike “AJ” Owens, mãe de quatro filhos, foi morta a tiros por sua vizinha Susan Lorincz, conhecida pelo comportamento agressivo e racista. A história, que ganhou o mundo, agora é contada em detalhes no documentário A Vizinha Perfeita, da Netflix.
Com 1 hora e 38 minutos de duração, o filme usa gravações oficiais e áudios obtidos com a polícia para reconstruir a escalada de conflitos entre as duas mulheres. Mais do que um relato sobre um assassinato, o documentário se aprofunda em questões sociais e morais, mostrando como preconceitos silenciosos podem se transformar em violência real — e até ser sustentados por leis que dividem opiniões.
“Usando gravações obtidas com a polícia, a produção mostra como uma série de eventos foram escalando em intensidade, até resultar na morte trágica de AJ. Além de mostrar como preconceitos podem afetar a vida em sociedade, a obra também questiona uma lei polêmica do estado da Flórida, nos Estados Unidos.”
Um retrato doloroso de intolerância
No início, AJ Owens era vista por seus vizinhos como uma mulher querida, ativa na comunidade e mãe dedicada. A tranquilidade do bairro, no entanto, começou a ruir quando Susan Lorincz se mudou para o local. Conforme mostra o documentário, Lorincz passou a fazer constantes ligações à emergência, denunciando supostos “marginais” que tentariam invadir ou danificar sua casa.
“Sempre que uma ocorrência era atendida, ficava evidente que ela estava exagerando, ou outras pessoas sequer haviam se aproximado de sua casa.”
A tensão atingiu o ápice em uma tarde de verão, quando Lorincz insultou os filhos de AJ, chamando-os de nomes racistas. Indignada, a mãe foi até a casa da vizinha para tentar resolver a situação pacificamente. Ao tocar a campainha diversas vezes, foi atingida por um disparo, vindo de dentro da residência. AJ não resistiu aos ferimentos e morreu horas depois.
A lei que dividiu o país
Após o crime, Susan Lorincz tentou se defender amparada pela controversa lei “Stand Your Ground”, da Flórida, que permite o uso de força letal quando alguém se sente ameaçado mesmo que o suposto agressor não esteja armado.
“Lorincz tentou se defender baseada na lei ‘Stand Your Ground’, da Flórida. Ela permite que pessoas que se sentem ameaçadas usem força letal contra seus atacantes em situações de risco à própria vida.”
A aplicação dessa lei tem sido alvo de críticas há anos, especialmente em casos envolvendo vítimas negras, onde o argumento de “legítima defesa” é usado de maneira seletiva. No caso de AJ, a investigação mostrou rapidamente que Lorincz havia mentido e já possuía um histórico de denúncias falsas e comportamento hostil.
Quatro dias após o assassinato, ela foi presa e acusada de homicídio culposo, negligência culposa e agressão.
Julgamento e condenação
Durante o julgamento, Lorincz alegou que atirou por medo, afirmando acreditar que AJ pudesse machucá-la. Mas o júri não se convenceu. As evidências, os áudios e o histórico de comportamento da acusada deixaram claro que não houve ameaça real, apenas racismo e intolerância.
“No entanto, o júri não acreditou em seu testemunho e a condenou por homicídio culposo, resultando em uma pena de 25 anos em regime fechado.”
Desde então, Susan Lorincz cumpre pena no Homestead Correctional Institution, no sul da Flórida, com previsão de liberdade apenas em 8 de abril de 2048. Mesmo presa, ela segue negando a culpa. Em uma entrevista recente à ABC, em setembro de 2025, Lorincz declarou que “os quatro filhos de AJ costumavam ameaçá-la de morte” e que “nunca seria capaz de assassinar alguém”.
Em resposta, a promotoria estadual da Flórida reforçou que o verdadeiro foco deveria estar nas crianças que perderam a mãe, e não nas tentativas da condenada de justificar seus atos.“O foco das discussões deveria ser nas crianças que perderam sua mãe, não nas declarações feitas pela condenada que não concordou com o resultado do julgamento.”

(Foto: Divulgação)
Uma reflexão sobre empatia e justiça
A Vizinha Perfeita não é apenas mais um documentário policial — é uma denúncia social, um convite à reflexão sobre como o racismo ainda está presente nas estruturas mais cotidianas da vida. A produção também questiona até que ponto uma lei que promete proteger pode, na prática, alimentar a impunidade e o medo.
A história de AJ Owens representa o drama de milhares de famílias negras que continuam sendo vítimas de violência racial e desigualdade judicial. A força de sua trajetória e o impacto de sua perda se tornaram um símbolo de luta por mudança.
Veja Também: neoCompany em sua nova campanha, transforma tecnologia em conexão humana com foco em pessoas




